segunda-feira, 8 de novembro de 2010


É o que falta neste espaço: classificados. Mas é preciso o diferencial. Classificados aqui não assumirão o tom dos jornais. Até porque, venhamos e convenhamos: estar ali não significa estar classificado, significa “pude pagar para estar aqui”. Proponho também outro diferencial: sobre o que se classifica. Não tentarei vender minha tia, minha avó ou aquele tio bêbado de toda festa. Não valem também coisas que não têm mais utilidade e que acabem sendo compradas por alguém, somente por falta de consciência momentânea. Melhor: este será um espaço mais de busca do que de própria venda. A internet, todos sabem, é um lugar de grande vastidão e que alcança um número cada vez maior de pessoas. Logo, se as pessoas conseguem vender até aquela máquina velha escondida na casinha de cachorro do vilão de histórias em quadrinhos, acho que podemos lançar mão da sorte e nos colocarmos nos classificados. Não. Não é rede de prostituição, nem tráfico de corpos…O propósito é facilitar o encontro com a pessoa que estávamos procurando. Quem sabe alguém não nos arremate? Pensando nessa perspectiva, criei o primeiro anúncio deste espaço. Não direi quem sou ou o que tenho. Direi o que quero, o que busco.

Segue anúncio:

“Cansei de imaginar, de sonhar sonhos inalcançáveis, de buscar metas inexistentes, prêmios banhados a ouro que se transformam em pó quando próximos aos meus olhos. Chega de tesouros escondidos; há algum tempo desisti também dessas velhas utopias… Hoje, me entrego à realidade palpável.

A realidade que vejo do banco da praça, do trabalho, da locadora de filmes, do cinema, dos bares, das livrarias, do cotidiano, da faculdade da vida. Não que ela não seja doce ou tão pouco que beire o fel. São somente verdades que se pautam na concretude de suas realizações, de suas ações, e não no imaginário dos loucos.

Recebo do mundo o que ele pode me ofertar. Não escolho para ver, vejo para me agregar. De tudo, não sei o que quero. Sei somente o que não quero: o espelho. O espelho do que sou, porque o que eu sou eu já conheço. Quero o novo, quero alguém que me tire da minha zona de conforto, que desestruture minha fortaleza constante, que me faça suspirar, me despir de meus comportamentos, de minha segunda pele.

Por isso, e nada mais que isso, brinco de amar, não de enganar ou de iludir, melhor seria brincar de flertar. Para que entre os sorrisos maliciosos, sedutores, encontre o olhar que contemple o meu. Para que entre os jogos de cabelo, descubra aquele em que percorrerei minhas mãos ávidas de desejo. Para que entre os perfumes do corpo, encontre aquele que torne minha respiração constante em ofegante. Para que possa viver a minha plenitude na plenitude alheia.

Pois não dizem os apaixonados platônicos ser o amor cego? Quem me garante então que na próxima flertada não terei flechado o coração da minha amada? Que na próxima esquina encontrarei aquela que me tocará. Gorda, marga, alta, baixa. Na medida certa, que meus braços envolvam, acolham e a tornem minha. Tão frágil em meus braços, sobre meus olhos, mas tão forte diante do mundo. Namorada minha, minha namorada. Doce menina que me preenche os olhos na figura de uma ardente mulher.

Chega! Já não quero mais que o mundo se molde aos meus desejos, aos meus sonhos. Quero somente moldar-me àquela que estará a meu lado para ser minha confidente amorosa, seja ela quem for, sem mais nem menos. Afinal de contas, de que adianta imaginar, supor, esperar, se é tudo aquilo que espero que me frustra, dada a intensidade da perfeição inexistente. Não se trata porém de aceitar as migalhas dadas ou de transformar-se em um depósito de desesperanças, ferro-velho, como dirão alguns… Meu coração somente ganhará novas fronteiras, se permitirá.

Por isso não perco a oportunidade de sorrir, de mostrar ao mundo quem sou, na esperança se ser encontrado ou quem sabe de me encontrar apaixonado. De receber um sorriso aberto, que invada minha alma e permita que meus olhos possam contemplar a perfeita imperfeição.

E se ELA tiver me encontrado….que me agarre na próxima esquina e, com um beijo, me leve ao Céu.”

terça-feira, 8 de junho de 2010


Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo... Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos... Já expulsei pessoas que amava da minha vida, já me arrependi por isso... Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos... Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem... Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram... Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou. Já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir... Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi... Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto... Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir... Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam... Já tive crises de riso quando não podia... Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva... Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse... Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar... Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros... Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros... Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz... Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava... Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali"... Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais... Já liguei para quem não queria apenas para ligar para quem realmente queria... Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava... Já chamei pela minha mãe no meio da noite fugindo de um pesadelo, mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda... Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim... Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre... Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!... Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!... Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão... Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE! Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes... Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? EU ADORO VOAR!

quarta-feira, 2 de junho de 2010


Sabe do que eu gostava e nunca te falei? Quando você saía do banho. Você nunca conseguiu se secar direito. Vinha pingando pelo quarto. Cabelo displicentemente penteado, e completamente encharcado. De calcinha, e escorrendo água por aquele corpo reto, sarado, lindo. Aí, como se estivesse completamente seca, você deitava na cama, do meu lado. Colada. E me beijava com a boca doce, úmida, só minha.
Me lançava um olhar que pedia aprovação. Se eu não dissesse nada, você cantarolava alguma coisa, algumas daquelas músicas que você compunha para eles e me fazia rir muito, e lá vinham aqueles dois cachorros miúdos correr pela cama em volta de você. Eu só deixava, e isso eu nunca te falei, porque adorava a cara que você fazia.
Você ria como uma criança. Uma criança que você é, e nunca vai deixar de ser. E isso, talvez eu nunca tenha te dito, é das coisas mais bonitas que você tem. Bonito porque, mesmo sendo tão pura e ingênua, você é madura, forte, determinada. Você é tudo isso em uma só. E o que me atraiu em você, numa tarde de verão californiano, foi exatamente essa mistura rara. E isso, eu acho, nunca te disse.
Eu também nunca te disse que você foi a melhor coisa que me aconteceu na vida, disse? Disse que nunca antes tinha amado de um jeito tão forte, tão químico, tão sensível? Que nunca tinha tremido de paixão como naquela noite que você me beijou no sofá da sala? E em todas as seguintes. Já te disse? E eu já te disse que você me entendia como ninguém jamais me entendeu na cama? Que eu nunca fui tão longe? Que te ver sorrindo em cima de mim, só pra mim, talvez seja, até hoje, minha paisagem predileta?
Sabe do que mais eu gostava? Quando você imitava o cara do desenho animado, o portuga. Eu ia trabalhar lembrando da imitação e morria de rir, sozinha no carro. Eu já te disse que te amei, entre tantas outras coisas, porque você me fazia rir? Já te disse que hoje, quando a gente se encontra e consegue superar a dor para falar do passado, você ainda me faz rir assim? Já te disse que lembrar da vida que eu tive do seu lado é meu passatempo predileto? Que você me ensinou sobre as pessoas, sobre as verdades, sobre futebol, sobre política, sobre justiça, sobre como um prédio sai do chão e chega ao último andar, sobre a lógica da vida?
Já te contei como essas coisas mudaram a forma como eu vejo o mundo? Já te disse como era bom ficar deitada no seu ombro? De como eu me sentia segura? De como eu gostava quando a gente via "cuickócuick" e de como a gente sacaneava, naquele jogo que vai ser para sempre só nosso, "Summerland"? Já te disse que, até hoje, quando eu ouço a sua voz no telefone, meu coração palpita diferente? Que a sua voz, as coisas que você me diz, o jeito que você diz, entram no meu ouvido da forma mais doce do mundo? Que eu adorava quando você me abraçava no meio da noite? Que eu chorava quando a gente fazia amor?
Já te disse que te ver chorar é como pegar uma faca bem afiada e ir passando ela devagarinho pela minha alma? Que eu ainda sonho com você? Com a gente lendo o jornal no chão da sala, tomando café, comendo as "especialidades" que você fazia para mim? Já te disse que eu comecei a escrever este texto umas 300 vezes e nunca consegui terminar porque as lágrimas não deixavam?
Já te disse que as músicas que você compôs no violão são as mais bonitas que eu já escutei? Que eu ouvia sozinha, escondida, quando você estava no trabalho, e elas me faziam chorar? Já te disse que eu adorava quando a gente ia almoçar na casa dos seus pais e suas irmãs ficavam falando de como você era mal- humorada na infância? Eu te olhava, ouvindo a mesa inteira falar de você, e via a mulher que só eu conhecia, que só eu amava daquele jeito tão fundo. E sentia um orgulho enorme. Aliás, e isso eu acho que eu já te disse, eu sinto tanto orgulho de você... Tanto.Eu queria ver o mundo com seus olhos de criança, chorar e deixar as lágrimas pularem, e não apenas escorrerem. Queria ser indignada como você. Inquieta como você. Justa como você. Bonita como você. Intensa como você. E sabe o que mais eu queria? Ter tido um filho seu. Porque eu queria que você se multiplicasse. Acho que é disso que o mundo precisa. Pessoas bonitas, fortes, inquietas, indignadas, questionadoras, inteligentes. Como você.
Mas tem uma coisa que eu certamente nunca te disse. Por que a gente se separou. Sabe por que eu nunca te disse? Porque eu nunca entendi. Eu não sei o que te afastou de mim, o que me afastou de você. O que eu sei é isto: eu sempre vou te amar. Pelo que você é. Pelo que você foi. Pelo que você será.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Fases


Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

(Cecília Meireles)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Reinvenções Por Minuto: O que há no meu silêncio

Reinvenções Por Minuto: O que há no meu silêncio

O que há no meu silêncio


" Escrevo inteira e sinto um sabor em ser e o sabor é abstrato como o instante. É também com o corpo todo que pinto os meus quadros e na tela fixo o incorpóreo, eu corpo a corpo comigo mesma. Não se compreende música: ouve-se. Ouve-se então com o corpo inteiro. Quando vieres a me ler perguntarás por que não me restrinjo à pintura e às minhas exposições, já que escrevo tosco e sem ordem. É que agora sinto necessidade de palavras- e é novo para mim o que escrevo porque minha verdadeira palavra foi até agora intocada. A palavra é a minha quarta dimensão."

" Há muita coisa a dizer que não sei como dizer. Faltam as palavras. Mas recuso-me a inventar novas: as que existem já devem dizer o que se consegue dizer e o que é proibido. E o que é proibido eu adivinho. Se houver força. Atrás do pensamento não há palavras: é-se. Minha pintura não tem palavras: fica atrás do pensamento. Nesse terreno do é-se sou puro êxtase cristalino. É-se. Sou-me. Tu te és. E sou assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico, fantástico e gigantesco: a vida é sobrenatural. E caminho segurando um guarda-chuva aberto sobre corda tensa. Caminho até o limite do meu sonho grande. Vejo a fúria dos impulsos viscerais: vísceras torturadas me guiam. Não gosto do que acabo de escrever - mas sou obrigada a aceitar o trecho todo porque ele me aconteceu. E respeito muito o que eu me aconteçe. Minha essência é inconsciente de si própria e é por isso que cegamente me obedeço. Estou sendo anti-melódica. Comprazo-me com a harmonia difícil dos ásperos contrários. Para onde vou? E a resposta é: vou."

Clarice Lispector